Com a pandemia e a vacinação de Covid-19, a palavra “comorbidade” entrou no vocabulário do dia a dia. Popularizou-se a noção de que alguns grupos de pessoas podem ter um risco maior para a doença e, portanto, são de especial indicação para vacinar.
Mas você sabia que isso existe não só para Covid?
As diferentes comorbidades podem estar associadas a mais chances de contrair diversas infecções. Os chamados “pacientes especiais” tem calendários próprios de vacinação.
Vamos entender melhor este conceito:
O que são comorbidades?
Comorbidades também são conhecidas como doenças de base. São doenças ou condições pré-existentes que tornam as pessoas portadoras mais suscetíveis a outras doenças e infecções. Essas condições tanto podem ser doenças crônicas, como diabetes, quanto passageiras ou tratáveis, como o câncer.
No meio médico, o termo comorbidade é usado para a coexistência de doenças que podem se potencializar mutuamente. Ou seja, se por um lado a doença de base pode tornar a pessoa mais vulnerável a uma infecção (como a Covid ou a gripe), por outro as infecções podem descompensar uma doença de base que vinha sendo bem controlada.
Determinadas faixas etárias ou grupos de pessoas são mais comumente associados a comorbidades. A hipertensão, por exemplo, é mais frequente entre os idosos, assim como pessoas com obesidade podem ter mais chance de apresentar diabetes. Isso não significa que apenas esses grupos possam ter alguma doença de base. Crianças, adolescentes e adultos com alguma comorbidade são considerados pacientes especiais.
Quem são os pacientes especiais?
São aqueles que por alguma condição tem recomendações especiais em um determinado tipo de tratamento ou medidas preventivas, como a vacinação.
De imediato, pensamos nas pessoas com doença de base, mas nesse grupo estão também aqueles que estão com o sistema imunológico enfraquecido pelo uso de medicamentos.
Toda comorbidade tem as mesmas recomendações de vacinação?
Existem patologias crônicas que, embora não causem imunodeficiência, aumentam a chance de contrair doenças infecciosas e levar às suas complicações. Seus portadores são considerados imunocompetentes.
Já as doenças ou medicamentos que causam deficiência no sistema imunológico, levam as pessoas a terem menos capacidade de responder a infecções e aos estímulos da vacinação. Nesse caso, são o que chamamos de imunodeprimidos.
Essa diferenciação é muito importante para avaliar as recomendações de vacinação. De início, influencia que tipo de vacina pode ser aplicada em cada grupo. Além disso, cada caso pode indicar esquemas diferenciados, reforços adicionais, vacinas que não são rotineiramente recomendadas, além de outras precauções e contraindicações.
Para os imunocompetentes, as vacinas atenuadas (de bactérias ou vírus vivos enfraquecidos) e inativadas (de bactérias ou vírus mortos ou apenas partes do agente infeccioso) são tão seguras quanto o são para a população em geral.
Para os imunodeprimidos, na maioria das vezes, as vacinas atenuadas são contraindicadas. As vacinas inativadas são seguras, mas podem ter a eficácia prejudicada, uma vez que a produção de anticorpos dessas pessoas pode ser inferior à do restante da população. Isso, em algumas situações, torna necessária a adoção de esquemas de doses alternativos.
Outros fatores a serem analisados:
– Risco de infecções;
– Grau de imunodepressão;
– Se o imunocomprometimento é temporário ou permanente;
– Quais as medicações ou imunoglobulinas são utilizadas;
– Histórico vacinal.
Todos esses fatores vão ajudar a determinar quais as vacinas indicadas, quais esquemas vacinais mais adequados e qual o melhor momento para serem aplicadas.
Portanto, a vacinação requer planejamento adequado e individualizado em conjunto com o médico responsável pelo acompanhamento do paciente.
Como saber quais vacinações são especialmente indicadas?
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), seguindo protocolos de saúde nacionais e internacionais, elaborou uma série de calendários de vacinação para pacientes especiais, um para cada grupo. Para alguns grupos, existem ainda guias completos de vacinação, elaborados em conjunto com outras sociedades.
As diferentes condições clínicas podem requerer a adaptação das recomendações. Portanto, sempre consulte o seu médico antes de se vacinar.
Calendários de vacinação SBIm para pacientes especiais
No site Família SBIm tem uma página dedicada a informações sobre pacientes especiais com o calendário de vacinação de cada grupo:
- Asplenia anatômica ou funcional, hemoglobinopatias, doenças de depósito e outras condições associadas a disfunções do baço
- Diabetes
- Doenças do coração (cardiopatia) e/ou do pulmão (pneumopatia) crônicas
- Doenças do fígado (hepatopatia) crônicas
- Doença renal crônica
- Câncer ou uso de drogas imunossupressoras
- Doenças reumatológicas e autoimunes
- Imunodeficiências congênitas (primárias)
- Crianças e adolescentes vivendo com HIV
- Adultos e idosos vivendo com HIV
- Transplantados de células-tronco hematopoiéticas
- Candidatos a transplante ou transplantados de órgãos sólidos
Veja aqui cada calendário e mais informações ou baixe aqui o guia completo.
Guias de Vacinação
- Paciente Oncológico – SBIm/SBOC (2021)
- Asma, alergia e imunodeficiências – SBIM/ASBAI (2021)
- Transplante de Órgãos – SBIm/ABTO (2020)
- Diabetes – SBIm/SBBD (2020)
- Pneumologia – SBIm/SBPT (2019)
- HIV/Aids – SBIm/SBI (2017)
Onde os pacientes especiais podem se vacinar?
Todas as vacinas indicadas nos calendários da SBIm e de outras sociedades médicas estão disponíveis na Vaccini.
No PNI (Programa Nacional de Imunização), além dos calendários de rotina para cada faixa etária que são oferecidos nas UBS (Unidades Básicas de Saúde — mais conhecidas como “postos de saúde”), estão previstas diversas vacinas disponibilizadas para pacientes especiais nos CRIE (Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais).
As pessoas que convivem com os pacientes especiais também devem se vacinar?
A vacinação de quem mora ou convive próximo a pessoas com comorbidades é muito importante para minimizar o risco de transmissão de doenças infecciosas. Isso é ainda mais essencial em casos de imunodeprimidos que podem ter vacinas contraindicadas e redução de eficácia de algumas vacinas recebidas.
Esse grupo de conviventes não se restringe a familiares. Cuidadores, empregados domésticos, profissionais da saúde e da educação muitas vezes tem um contato até maior do que o de pessoas da família. Todos devem procurar ter o calendário vacinal atualizado para a sua faixa etária.